segunda-feira, 10 de agosto de 2009

As quatro letrinhas e a sabedoria dos eremitas

A primeira lembrança que tenho do jornalismo remete aos meus cinco anos de idade. Era verão e meu pai assistia ao Jornal Nacional sem camisa deitado na cama. Eu brincava fazendo um carrinho passear pela saliente barriga do seu Paulo.

Não lembro ao certo o que estava sendo noticiado, mas havia um repórter ao vivo falando sobre algo muito importante. Não tanto quanto às perigosas subidas e descidas do “Monte Paulo Brotto” é claro, mas eu parei para assistir porque as quatro letrinhas que ficavam no canto superior direito da tela me chamaram demais a atenção. Eu estava aprendendo a ler, e juntar as letras parecia mais fácil quando tomava a saudosa sopa de letrinhas da Maggi.

Fiquei parado olhando para a TV por vários e demorados segundos até ter certeza do que estava escrito. Quando finalmente me convenci de que elas formavam a palavra “vivo” (não queria fazer papel de burro diante do meu temido e barrigudo pai) perguntei:

- Pai, por que tá escrito “vivo” ali na tela?

No fundo, eu ainda tinha dúvidas se eu realmente estava certo, mas arrisquei. Pra minha surpresa meu pai ficou todo orgulhoso e me explicou do que se tratavam as tais quatro letrinhas.

Em minha cabeça de semi analfabeto não entendi porque ele ficou tão feliz por eu saber o que estava escrito na tela. Mas, como toda criança, pra mim o meu pai era a pessoa mais inteligente, sábia e sincera do universo. Fiquei tooodo me achando, larguei meu carrinho e deitei com a cabeça em sua barriga para assistir o jornal – sim, a pança do meu pai era um dos meus brinquedos preferidos.

Do jeito que falo até parece que meu pai era um ser imenso. Que nada, ele era igualzinho ao Super-Homem e jogava bola melhor que o Pelé.

Pronto pai, me redimi!

Enfim, até hoje não sei porque tenho esse momento guardado tão forte em minha memória que tantas vezes me deixa na mão. Daí em diante não me lembro de muita coisa –voila –mas o ponto chave era esse.

Por alguns minutos fiquei hipnotizado pelo o que aquele jornalista tinha a dizer. Estamos falando de 1991. Os links ao vivo não eram muito comuns. E eu fiquei pensando que, naquele momento, o repórter era uma pessoa deveras importante, afinal, se o meu pai – superhomemmelhorqueopelé - olhava para ele com tanta atenção, a coisa devia ser realmente muito séria.

E acho que vem daí a explicação por hoje eu estar aqui sentado escrevendo esse texto piegas e refletindo sobre o trabalho de conclusão do meu amado curso de Jornalismo.

Eu nunca tinha parado para pensar sobre da onde veio o amor por essa profissão, mas acho que encontrei a resposta.

Os sábios eremitas do Monte Paulo Brotto não poderiam estar errados.

De lá pra cá se passaram 18 anos. Como naquele dia com as letrinhas, agora eu levei alguns demorados segundos para fazer essa conta. Infelizmente não herdei a habilidade com os números do meu velho, mas devo a ele uma das maiores alegrias da minha vida - ser jornalista.

É impossível me imaginar fazendo outra coisa senão juntar letrinhas para formar frases.

Pai/tio/porquinho/amigo/vô/coxa-branca Paulo, tenho certeza que isso é uma surpresa pra você, mas, muito obrigado por me ensinar a ser jornalista!

Se não aprendi a entrevistar alguém ou fazer um lead com você, aprendi o que um jornalista precisa ter acima de tudo – ética, coração, respeito, honestidade e amor pelo que faz.

Feliz dia dos pais!

7 comentários:

Anônimo disse...

adorei o texto joao, bacana mesmo...contagem p/ a formatura agora rss...bjus monica neves

paulo disse...

MEU FILHO!!!!
VOCE LEVOU-ME AS LÉGRIMAS COM ESSA HOMENAGEM. QUE DEUS CONTINUE TE ILUMINANDO NESSA JORNADA E SAIBA QUE NAO TENHO DUVIDAS QUE SERA UM
BRILHANTE JORNALISTA.
BEIJOS

Paulo Motta disse...

Que maneiro bicho!! Tem coisas que a gente não explica mesmo. No máximo tenta entender a origem. Vc juntou as letrinhas e está aí hoje! Parabéns...

Rodrigo Saporiti disse...

Quase levou mais um pai às lágrimas. Excelente, não leve para o lado de texto piegas, mas considere uma crônica que certamente poderia ser publicada em qualquer jornal... rs
Abraço.

Anônimo disse...

Gui querido!

Já tinha lido na casa da vó. Ela mostra para cada um que chega...
Sensacional!
Claro,delicado,carinhoso,sensivel e emocionante.
Voce só nos dá orgulho querido.
Será certamente um brilhante jornalista.

Xixa

Anônimo disse...

Primooo, q lindoo! Adoreii ! Achei mto legal vc lembrar de coisas q viveu a 18 anos atras,mtas pessoas esquecem ! Parabens !

Saudades ♥

By; Aninha

Douglas Luz disse...

Opa,João! Texto maneiro demais da conta. Curti msm!
Sem dúvida que será um grande jornalista,torcida pra isso pelo visto você tem...e muita! Conte com a minha tb.

Abração,cara!